Indígenas mulheres: política, lutas e saberes em terras nordestinas
Tipo de documento
Tese
Data
2023
Modalidade de acesso
Acesso aberto
Centro
FAED
Instituição
Programa
Programa de Pós-Graduação em História
Área do conhecimento
Ciências Humanas
Editora
Autor
Andrade, Andreza de Oliveira
Orientador
Coorientador
Resumo
O texto apresentado é resultado de uma pesquisa desenvolvida junto às comunidades indígenas Mendonça do Amarelão – RN e Jenipapo-kanindé – CE e parte da centralidade das mulheres como lideranças nestas comunidades para problematizar aspectos da cultura política das comunidades à luz de uma perspectiva descolonial das práticas políticas, das relações de gênero e da organização coletiva dos povos originários de modo geral e das indígenas mulheres de modo específico. As protagonistas desta trama histórica foram Tayse Potyguara (liderança Mendonça), Cacique Pequena e Cacika Irê (lideranças Jenipapo-kanindé), cujas atuações políticas se estendem para além de seus territórios, reverberando tanto no Movimento Indígena quanto em políticas institucionais. Elas são o fio condutor que leva à uma análise historiográfica que as associa à uma ampla tradição de resistência e atuação política das indígenas mulheres no Brasil. A partir do uso da metodologia da história oral e guiada pelas memórias destas mulheres, busco delinear elementos de um cenário histórico de ampla resistência dos povos originários em um recorte espacial no Nordeste, região que abriga a segunda maior parcela de população indígena no país. Suas memórias são os fios que ajudam a conectar a história do tempo presente, no qual se percebe o fortalecimento da militância e da presença das indígenas mulheres nos espaços políticos e de poder institucional, à ancestralidade que trazem consigo, que nos remete à sua luta e de seus povos contra todas as formas de colonialidade, e que é travada a partir de seus corpos-território, de sua organização política e da influência que tradicionalmente exercem junto às suas comunidades. A partir da critica social inscrita no campo do chamado giro decolonial busquei constituir análises acerca das práticas de resistência das indígenas mulheres tanto a partir de suas organizações coletivas no âmbito de suas comunidades, quanto para além delas, chamando atenção para o protagonismo que a epistemologia assume como instrumento de uma resistência política atravessada pela constituição de uma cultura histórica na qual seus povos são protagonistas do enredo histórico. Algo que se faz notar a partir da centralidade que a produção de conhecimento assume nos discursos e na militância das interlocutoras, quando elas mesmas se inscrevem como produtoras de conhecimento. Interessadas em ocupar espaços acadêmicos como forma de constituir à crítica à colonialidade desde os espaços coloniais como a academia. Em função disso se dá a análise de suas escrevivências apresentadas a partir da produção de suas próprias pesquisas acadêmicas.
Abstract
The text which follows results from a research carried out with the Mendonça do Amarelão (in the Brazilian State of Rio Grande do Norte) and Jenipapo-kanindé(in the State of Ceará) indigenous communities. It focuses on the centrality of women as leadership figures within those communities, in order to problematize aspects of the political culture in the communities, from a decolonial viewpoint of political practices, gender issues and collective organization pertaining to indigenous peoples in general and, more specifically, to indigenous women. As protagonists along this historical development, Tayse Potyguara (Mendonçafemale leader), Cacique Pequena and Cacika Irê (Jenipapo-kanindé female leaders) have extended their political activities beyond their territories, with reverberations both across the indigenous peoples’ movements and institutional policymaking. Through these women one has access to a historiographical perspective linking them to a long-standing tradition of resistance and political activity by indigenous women in Brazil. Using oral history methods and guided by those women’s memories, I seek to sketch the elements of a historical backdrop of long-standing resistance put up by indigenous peoples, as circumscribed within the geographical Nordeste, the northeasternmost region of the country, the second most inhabited by indigenous populations. These women’s memories are threads tying the history of the present time — in which one witnesses a strengthening of the militancy and an increasing presence of indigenous women in the political spaces, as well as in those of institutional power — to the ancestrality they bring with them, which directs us to their — and their peoples’ — struggle against all forms of coloniality, a struggle faced by means of their body-territories, their political organization and the influence they exert amidst their communities. By means of the social criticism registered under the scope of the decolonial turn, I have sought to analyze indigenous women’s practices of resistance, both within their communal, collective organizations, and beyond them, emphasizing the protagonism of epistemology as a tool for a political resistance which is affected by the establishment of a historical culture in which its peoples are protagonists of the historical narrative. Something made perceptible by the centrality which the production of knowledge takes over in the discourse and in the militancy of the interviewees, as they register themselves as producers of knowledge. Aiming at the occupation of spaces in academia as a means to build up the criticism against coloniality from the academic spaces, traditionally colonial ones. Thus is one able to analyze their “experience-writings” (from Portuguese: escrevivências) revealed through their own academic research.
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